Após anos fora do Brasil, separado da família pela distância e pelo afeto, Marcos é obrigado a retornar ao país quando seu pai, Armando, sofre um derrame. Executivo, casado e bem-sucedido na Europa, Marcos reencontra Tiago, seu irmão mais novo. Ao contrário do primogênito, Tiago não tem vocação para os negócios. Para aumentar o conflito entre os irmãos, eles descobrem que possuem uma meia-irmã, Manuela , vítima de deficiência intelectual, que a faz ter o mesmo comportamento que uma criança. É neste conflito que o filme Meu País se sustenta. No entanto,ele consegue ir além das espectativas.
Mais do que uma relação delicada entre os dois irmãos e a descoberta de uma nova irmã, - que antes de mais nada, possui uma deficiência - o longa de André Ristun consegue transmitir sentimentos e emoções de forma poética e profunda. Em destaque, Marcos (Rodrigo Santoro): o irmão bem sucedido que parece gostar de viver longe da família. A notícia da morte de seu pai o obriga a voltar ao Brasil, mas sequer no enterro ele demonstra um resquício de tristeza; uma falta de gesto que beira a frieza. Mas não é isso que o caracteriza. Marcos é um homem que acúmula seus sentimentos e suporta os pesos que a vida coloca em seus ombros. Por mais que ele não aceite em primeiro momento a nova irmã, ele acaba entendendo que ela faz parte da família e que as "bolas erradas devem ficar aonde estão". Como se não bastasse a sua volta ao Brasil - que o coloca em contato com lembranças do passado - e a descoberta de sua meia-irmã, Manuela, Tiago (Cauã Reymond) se indiva com jogos e põe o futuro da empresa do falecido pai em risco.
Marcos é o Atlas da família. Tem de suportar o mundo de problemas e cuidar de seus dois irmão, mais sua relação com sua esposa, Giulia, que em determinado momento o questiona o porquê da vontade repentina de cuidar de alguém, se ele nunca demonstrou interesse em ter filhos. Talvez Marcos nunca quisesse ter crianças, ou cuidar de alguém, mas diante de acontecimentos inesperados, ele apenas cede ao que ele acredita ser correto fazer.
Manuela, por sua vez, interpretada por Déborah Falabella, rouba a cena por diversas vezes. A brilhante atuação da atriz comove e encanta. Dá gosto ver um filme nacional com uma atuação dessas, capaz de arrancar lágrimas do público (como vi acontecer). O universo infantil é trazido de uma forma muito particular na figura de Manuela, que apesar da mentaliade de criança, sabe cantar "Exagerado", de Cazuza.
Quando assisto um filme e gosto, me pergunto: "o que me fez gostar?". Em Meu País acredito que a postura de Marcos, em sempre controlar os ânimos e fazer as coisas corretas e justas, inspira o espectador. Algo como suportar e ceder muito do que tem em prol de um valor. Este valor, em especial, a Família, é talvez o que mais nortei o longa e o que nos faz sentir tão comovidos. Sobretudo na cena final, dos três na praia. O filme não mostra o desenrolar de alguns conflitos, mas esta não é a proposta. A proposta é usar destes conflitos para a percepção de que apesar dos pesares alguém tem que lutar pela família, por mais que ela seja formada por uma meia-irmã com deficiência mental e um irmão boa vida, envolvido com drogas e jogo. É a entrega de si para a concretização de um valor.
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